Máquina do tempo - Revista Som Três

Hoje na nossa máquina do tempo, visitaremos a revista Som Três e conheceremos sua contribuição para a história impressa do rock n' roll nacional. Luiz Domingues, na época membro da clássica banda "A Chave do Sol", é que nos conta essa história.  


Finzinho de anos setenta e o astral contracultural de outrora estava praticamente encerrado.
 
O discurso de revistas extintas como a "Rolling Stone" brasileira e a "Rock, a História e a Glória" eram considerados ultrapassados.
 
A revista "POP" estava encerrando atividades em franca decadência e a melhor alternativa no mercado era o revista "Música", como resistente num mundo em processo de mudanças radicais no campo da música, Rock em específico.
 
Eis que surge então uma nova revista, denominada "Som Três", editada pela editora Três, que tinha como seu carro chefe até então, a revista "Planeta", dedicada ao ocultismo, misticismo e esoterismo em geral.
 
Como proposta editorial inicial, a Som Três era ainda mais radical do que a revista Música e 90% do seu espaço era dedicado à matérias sobre equipamentos de audio, principalmente.
 
Mais parecendo uma revista sobre automóveis, mas falando de equipamentos de audio, era destinada não a curtidores de música, exatamente, mas gente preocupada no desempenho de aparelhagens e pouco preocupada em estéticas artísticas.
 
O primeiro número chegou às bancas em janeiro de 1979, com a voluptuosa Zezé Motta deitada lânguidamente sob um pilha de receivers, pick-ups e tape-decks, deixando clara a sua intenção editorial.
 
Aos poucos, contudo, o espaço dedicado à questão artística foi aumentando. Sessões foram sendo criadas e já nos primeiros anos dos anos oitenta, a revista passou a adotar a estratégia de lançar edições especiais paralelamente, aí sim dedicadas à produção artística.
 
Os famosos posters da Som Três começaram a fazer grande sucesso entre o público rocker, ainda ligado na estética setentista.
 
Para esses saudosistas dessa Era, agora vilipendiada por detratores niilistas, os tais posters da Som Três eram sinais de alento, pois não era mais uma época favorável para se ver o Led Zeppelin, Yes ou Deep Purple em destaque numa banca de jornais e nesse sentido, a Som Três cumpriu um bom papel, ainda que não trazendo nenhuma grande novidade, pois os posters eram bacanas como ilustração, mas na parte dos textos, pouco acrescentavam. 
 
Surgiram então edições especiais como o "Dicionário do Rock", uma compilação de A a Z, com fichas técnicas de dúzias de artistas desde os anos cinquenta, outra iniciativa interessante. Outra que marcou, foi "O Livro Negro do Rock", ricamente ilustrado.
 
Outra, ainda mais salutar, foi lançar posters de artistas brasileiros. Lembro-me de um poster por exemplo, onde o Made in Brazil e a Patrulha do Espaço dividiram a matéria e alguns anos depois, um poster denominado "Metal", onde quatro bandas também foram enfocadas, incluso a minha na época , "A Chave do Sol", embora não fossemos uma banda de Heavy-Metal, mas aos olhos da revista, nos enxergavam dessa forma (dividimos espaço com "Centúrias", "Platina" e "Abutre").
 
O staff da revista tinha gente muito boa, claro. Maurício Kubrusly era editor e nomes como Gabriel Almog, Nestor Natividade, Paulo Massa, Ethevaldo Siqueira, Gilles Phillipe e Leopoldo Rey, entre outros, passaram pela redação.
 
O Leopoldo, aliás, era um dos que mais puxavam a sardinha para a revista falar mais de música do que equipamentos de audio. Sua coluna, "Dr. Rock", lembrava de certa forma as colunas do Ezequiel Neves na "Rolling Stone" e "Rock, a História e a Glória", trazendo uma dose de humor, ainda que mais comedidamente.
 
Quando o BR-Rock explodiu, a Som Três não caiu de amores pela turma do pós-punk como outras revistas o fizeram. Manteve uma linha editorial livre, sem rabo preso com facções e formadores de opinião tendenciosos, como se observou em outras publicações oitentistas.
 
Em janeiro de 1989, saiu a última edição, exatamente dez anos após o início e assim encerrando no seu n°121.
 
Sou grato, pessoalmente à revista Som Três por ter dado espaço à minha banda naquela década, A Chave do Sol, em algumas oportunidades.
 
E sei que muitos colegas também nutrem essa gratidão.
 
A Revista Som Três teve sua parcela de contribuição, ainda que não fosse 100% focada na produção artística e inegavelmente era bem feita, com padrão editorial de bom nível. 

Comentários

  1. curti muito o jornal rolling stones, pop e somtres, o que eu gostava mesmo era o programa kaleidoscópio, bons tempos !!!!!

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    1. Muito legal, Sergião !

      Bons tempos mesmo e eu também era muito fã do Kaleidoscópio. Aqui no arquivo do Limonada Hippie, você encontra uma matéria falando sobre esse importante programa radiofônico, pilotado pelo grande Jacques.

      Obrigado por ler e comentar !!

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  2. Não sou dessa época, mas curto muito músicas de outras décadas. Não sei se sou radical, mas não curto nenhuma banda dessa época que vivemos, pelo menos as que conheci até agora, enfim...gostei da matéria e com certeza acrescentou mais conhecimento musical pro meu conhecimento pessoal.
    Abraço a todos!

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    1. Adriano :

      Gostei muito de saber que gostou da matéria. De fato, a música de décadas passadas era feita por artistas que além da técnica apurada , tinham no coração, um fator verdadeiro de expressão artística, daí o diferencial. Hoje, a música é descartável, atendendo só a interesses comerciais e nada mais. Uma lástima.

      Por outro lado, cada vez mais observo a adesão de jovens que se interessam pela música praticada há décadas atrás, mostrando que anseiam por um resgate do padrão de qualidade, há muito perdido.

      Essa é a minha grande esperança e aposta em dias melhores.

      Esteja convidado a procurar no arquivo do Blog Limonada Hippie, outras tantas matérias que já foram publicadas, falando sobre outras publicações das décadas de sessenta e setenta e eventos culturais dessas décadas.

      Em nome do Blog, te agradeço por ler e comentar !

      Abração !

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  3. Muito legal essa matéria, Luiz. Eu comprei a primeira edição da Som Três(essa com Zezé Mota lindíssima na capa), pensando se tratar da mesma linha editorial da Revista Música, que eu colecionava. Mas, ao contrário de você, eu não tocava (ou melhor, só tocava um pouquinho de piano, na época) e não me interessava pelas questões de equipamentos. Então, deixei de comprar. Não percebi esse incremento que você cita. Muito bom saber e recordar tudo isso. Beijos, Cláudia Mogadouro

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    1. Oi, Cláudia !

      Realmente a linha editorial da Som Três era ainda mais focada em equipamentos de audio do que a da Revista Música.

      E vou além : Não falavam muito sobre equipamentos de músicos, mas sim de equipamentos Hi-Fi caseiros para pessoas comuns curtirem música e não necessáriamente profissionais da música.

      Posteriormente foi abrindo espaço para falar da cena musical.

      Muito bom saber que leu e gostou da matéria. Em nome do Blog, agradeço a leitura e o comentário !!

      Beijo,

      Luiz Domingues

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  4. Muito bom viajar nessa máquina do tempo!!!!Adorava a revista Planeta com matérias super bem feitas e a Som Três. Tenho alguns números que são dessa fase bem "equipamentos" e lembro do Maurício Kubrusly do tempo da rádio Excelsior!!!! Agora eu tinha "O Livro Negro do Rock" que é o dicionário do heavy metal, só que um senhor chamado Leopoldo Rey me disse que era o autor do livro e ele mesmo não possuia o livro, então dei pra ele e ele me deu uma xerox do livro. Mas valeu porque o Leopoldo Rey é um cara super astral e que mais manja de rock!!!! Resumindo sua matéria em uma palavra: IMPECÁVEL Luiz Domingues!!!

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    1. Silvana :

      Que legal você ter postado esse comentário com adendos que só enriquecem a matéria.

      Eu também curtia muito a revista Planeta, mas logo que saiu, em 1972. Infelizmente o espírito inicial foi diluindo-se e a partir dos anos 1990, já era quase irreconhecível. Parei de comprá-la em 2006, desapontado com sua falta de profundidade.

      No caso da Som Três,realmente o Kubrusly a levou nas costas nos dez anos em que foi seu editor e o Leopoldo Rey era o cara que a puxava para o Rock, principalmente.

      Que legal que gostou !! Adorei o elogio !!

      E você que tão bem conhece o Leopoldo, me diga : Ele é ou não é o famoso "Guru" da Revista POP e agora na Poeira Zine ?

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  5. Eu lembro desta capa. Parece que foi ontem... Ótima matéria Luiz!

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  6. Que legal que essa primeira edição com a Zezé Motta na capa ainda esteja na sua memória.

    Obrigado por ler , comentar e elogiar !

    Abraço, Lourdes !

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  7. Comprei a minha primeira Som Três em 1981. Depois não parei. Assinei a revista e recebia em casa. Que dor que eu sinto de ter deixado todos os exemplares se perderem. Gostaria de ler as críticas publicadas nela de novo. Lia de cabo a rabo pois era a única fonte de informação musical na época

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  8. Revista Somtrês e Kiss e o Brasil na década de 1980 http://minutohm.com/2015/07/19/kiss-e-o-brasil-na-decada-de-1980/

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  9. Se eu não me engano o vocalista do RPM, Paulo Ricardo, também chegou a ser colunista da revista antes da banda

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  10. Ainda tenho as edições completas entre 1979 e 1983 da Som Três. Na parte de música as críticas dos lançamentos de LPs eruditos também eram muito bons. Como citado a parte de equipamento de áudio foi ficando menor em seu conteúdo para a o conteúdo de música, e lançaram como encarte o "Jornal do Disco" em preto e branco e papel de jornal, aí a parte de Rock foi muito valorizado, e as edições especiais de bandas ou o Dicionário do Rock em 3 volumes. Lembro de ler sobre a nova onda do heavy metal inglês em primeiro lugar neste jornal. Parabéns pela recordação da Som 3.

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  11. A revista Somtrês foi a primeira que divulgou o lançamento no Brasil do disco the Number Of The Beast da banda de Heavy Metal inglêsa Iron Maiden, até então inédita nos catálogos fono-
    graficos nacionais, na edição de Julho de 1982. Também lançou posters da Nova Onda do Metal
    Britânico, como Venom, Motörhead, Saxon, Def Leppard, Judas Priest, e o próprio Iron Maiden, vendidos em bancas por todo território nacional.

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