Geração MTV

No dia 10 de Outubro de 1990, surgia a MTV na sua versão brasileira, a MTV Brasil. Era a terceira versão do canal depois da MTV americana e a europeia.
A sede da emissora fica em São Paulo, no bairro Sumaré, onde ficava anteriormente a TV Tupi, que já apresentava alguns poucos números musicais com bandas lendárias como: Secos & Molhados, Bill Haley and His Comets, Casa das Máquinas, Rita Lee & Tutti-Frutti, Novos Baianos e Celi Campello, e até os Jacksons Five. (colaboração de Luiz Domingues).

O formato dos programas do canal era bem diferente do apresentado hoje, e seu conteúdo bem alternativo e inovador para a TV brasileira daquele momento. O canal era comandado por jovens antenados e supersedentos para criar um segmento que realmente representasse os jovens na virada da década de 80/90. A primeira equipe de VJs, (palavra criada especialmente para designar os apresentadores da MTV), contava até então com Astrid Fontenelle, Cuca Lazzarotto, Daniela Barbieri, Gastão Moreira, Maria Paula, Rodrigo, Thunderbird e Zeca Camargo. Astrid, a mais ‘descolada’ dos VJs, abria a programação naquele ano.


Da mesma forma que os anos 50 foram marcados pela chegada do rock n’ roll, os 60 pelo movimento hippie, os 70 pelo psicodelismo e rock progressivo, os 80 pelo punk e new wave, os anos 90 foram marcados como a era do videoclipe.

Anteriormente transmitidos em algums programas como: Fantástico e o Clip Clip, na Rede Globo, Clip Trip da Gazeta, Som Pop (TV Cultura), na Manchete o Clip Show, o videoclipe agora teria a sua casa. A partir daquele momento, além das ideias contestadoras e libertárias do rock passadas através dos discos e dos shows, a imagem também entrou como um meio importante de expressão das ideias das bandas e artistas que estavam produzindo naquele momento.

Não só os músicos e apresentadores da época teriam um ‘playground livre’ para testar novas formas de fazer arte, como também vários artistas do meio audiovisual, já que era uma década em que o Brasil não estava com uma produção cinematográfica lá muito significativa. Por isso, o melhor lugar para esses profissionais do cinema atuarem, sem dúvida era através dos videoclipes.

Isso trouxe uma qualidade altíssima aos videoclipes nacionais, premiando várias figurinhas carimbadas do meio videoclíptico através do VMB, ou vídeo Music Brasil. (premiação brasileira de videoclipe, inspirada no VMA americano). O evento era superesperado pela audiência jovem do canal. Algumas figurinhas carimbadas que volta e meia concorriam aos prêmios, eram nomes como: Claudio Torres, Andrew Waddington, Breno Silveira e Toni Vanzolini, Roberto Berliner, Hugo Prata, diretores que volta e meia estavam recebendo  troféus super merecidos.


O grande diferencial da MTV era que, diferentemente dos outros canais, ela apresentava uma diversidade enorme de artistas, lançando várias bandas todo ano. Para isso, ela contava com uma grande variedade de programas de vários estilos musicais, como Yo! Raps, Fúria Metal, Lado B, o Disk MTV, (programa que apresentava os clipes mais pedidos pela audiência).

Contava também com programas que abordavam assuntos variados, que faziam parte da vida do jovem da época, de uma forma bastante ousada e direta. (considerando os padrões da década). Alguns desses programas inesquecíveis: Teleguiado, Alto e Bom Som, Garganta e Torcicolo, Barraco MTV, Cine MTV, Clássicos MTV, Fica Comigo, Meninas Veneno, entre muito outros tantos programas que revolucionaram a forma de abordar assuntos cotidianos.
 

Os VJs da década de 90 eram pessoas extremamente conhecedoras do mundo rock n’ roll, o que proporcionou muitos jovens da época receberem uma espécie ‘formação musical informal’.
A grande identificação dos jovens da época com o canal criou uma expressão que designava os mais aficionados, os ‘MTVciados’, que não desgrudavam os olhos e ouvidos do canal.

*‘Comecei a assistir a MTV por volta dos meus oito anos de idade, eu e meu irmão. Na época morávamos num sítio e o canal pegava por acaso, por sorte do destino. Escutávamos naquele marasmo, orgasmastron, no more tears, Guns n' Roses, tudo dando muitas asas à imaginação. Credito a MTV a influência em vários aspectos da minha personalidade, o bom gosto musical, o fashionismo e a queda pelo humor tosco’ – Luiza Barbirato.

*‘Foi uma época bacana, porque como ainda não tinha a internet, era o meio no qual as novidades do cenário musical chegavam até nós. Foi bom porque comecei a me interessar pela música, aprender a tocar um instrumento.’ – Raphaela Barbirato.

*‘A MTV teve uma grande influência musical na minha vida, a maioria das bandas que eu gosto, conheci na programação da MTV. (Isso na época que a MTV prestava). Foram várias fitas cacete gravadas de clipes huahuah, era um vício hehe.’ – Daiana Oliveira.

*’Ela pra mim foi o tio maluco, o irmão mais velho... A MTV era isso, não apenas um canal televisionado, era praticamente um mentor para a geração ‘Coca-cola’, ‘espinhada’ e cheia de energia pra gastar, no qual ela era a válvula de escape para tudo isso. Vão fazer falta mesmo.' – Márcio reis.

Sim, vai fazer falta! Para quem ainda não sabe, o canal encerra suas atividades, assim como o conhecemos, em setembro. Segundo informações, no dia 30 deste mês, será exibido um especial de despedida do canal. 

Sem dúvida o fim da MTV representará também o fim de uma era!


Com o fim de MTV, fico me perguntando, o que será de todo esse acervo que fez parte da vida de uma geração? Quem sabe não seria interessante se fazer o ‘museu virtual da MTV Brasil’. Fica aí a dica! 

Comentários

  1. Muito boa a matéria, dando uma geral na importância que essa emissora teve na cena da música, notadamente o universo do Pop.

    Só discordo de uma colocação, feita, pois com raras excessões (Fábio Massari, Thunderbird, Gastão Moreira, e de certa forma o João Gordo), todos os outros DJ's, eram mais escolhidos pela desenvoltura diante das câmeras, capacidade de improviso e humor; e no caso das garotas, pela beleza física.

    Nesse aspecto, pelo contrário, a maioria deles não entendia patavina de música, e falavam amparados pelo teleprompter, tão somente.

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    1. Oi Luiz, valeu pela participação!

      Esses Vjs que vc citou eram os que realmente sabiam mais sobre música, mas tirando as apresentadoras do Disk MTV, (que depois da Atrid, só foi ocupado por meninas bonitas), as outras apresentadoras como a Marina Person e a Cris Couto, apesar de não tão conhecedoras de música como os anteriormente citados, eram pessoas super antenadas, de opinião, e com conteúdo, tanto que as duas já faziam parte do mundo artístico antes de fazerem parte da MTV, a Marina é cineasta e a Cris Couto atriz. A própria Astrid era uma mulher de opinião, vide os debates do barraco MTV e o programa Pé na Cozinha. A beleza certamente não foi o que a pos na MTV!
      O Cazé já focava mais nas discussões políticas no Teleguiado, sempre tentava questionar a opinião dos jovens em relação ao que estava acontecendo no país no momento, de uma forma descontraída.

      Enfim, o legal da MTV dos anos 90, era que, diferentemente dos anos 2000, não bastava ser só bonito pra ser VJ, cada um tinha seu próprio estilo único de apresentar os programas, e revolucionou a TV de alguma forma.

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  2. Muito bom, parabéns! Eu assistia bastante a MTV no início. Foi uma grande inovação e fonte de informação para quem tinha pouco acesso a novidades da música no Brasil. A geração do Youtube, que hoje acha tudo com facilidade, não sabe como era difícil conseguir ver material de seus artistas preferidos na TV brasileira. Antes disso tínhamos que arrumar quem tivesse dois aparelhos de VHS e fitas emprestadas de amigos que conseguiam coisas importadas para fazermos cópias... rs... A MTV abriu esse mercado, para todos os públicos e gostos. Facilitou bastante o acesso, tanto para quem queria ver e ouvir, quanto para quem queria mostrar!

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    1. Sem dúvida Ricardo!!! A MTV era como se fosse uma rádio que se podia deixar ligada o dia todo, pq na maioria das vezes iríamos ouvir música boa; Além dos programas super interessantes que passavam na programação!

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  3. Na época, muito legal com Astrid, Gastão, Fabio Massari, João Gordo, depois foi mudando, mudando uma vez liguei e o Lobão estava apresentando um programa e antes de uma banda tocar ele falou algo ruim sobre Rock Progressivo, mudei de canal e a ultima vez que vi era uma programa tipo os 10 mais isso os 10 mais aquilo e nesse dia era as 10 coisas mais maçantes do rock e não sei em que lugar estava SOLOS DE BATERIA DURANTE O SHOW, não assisti mais, espero que essa geração MTV entenda o que aconteceu, muita gente ainda ouve R PROGRESSIVO OS SOLOS DE BATERIA CONTINUAM NOS SHOWS e o Lobão e a MTV ..........

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    1. É Sérgio, realmente a MTV perdeu muito da qualidade a partir dos ano 2000, quando o foco do canal começou a ser um público mais novo, pré-adolescente. A partir dai ficamos órfãos de um canal que nos representasse na TV. Fico muito indignada quando ouço alguém falar mal ou debochar do rock progressivo na TV, como vi o Danilo Gentili fazer esses dias no programa dele, isso somente demonstra a falta de informação e ignorância deles em relação a qualidade do nosso rock, ou no caso do Lobão, como as pessoas podem renegar um passado injustamente, quando deveriam valorizá-lo, já que sem ele não teriam chegado onde chegaram... Enfim!

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  4. Lembro até hoje que a MTV entrava na hora do almoço no canal 9, que pertencia a TV Corcovado. Esses primeiros anos, antes de ir pro UHF, são os que eu mais guardo na memória. Era o auge do G'N'R e o nascimento do grunge. Passava clipe quase o dia todo. A década de 90 foi muito boa: Faith no More, Living Colour, Metallica, REM, Tears for Fears, Red Hot, Depeche Mode, Smashing Pumpkins, Ozzy, Nirvana, etc. até clássicos como AC/DC, Dire Straits, Sabbath etc.
    Era muita coisa boa.
    A MTV só prestou até o começo da década de 2000, quando o rock e o pop de qualidade começaram a perder lugar pro rap de bandido, pras "divas" do RMB e pro pop adolescente e se multiplicaram os programas sem clipes e sem conteúdo (não tinha mais Cazé zoando gente alienada).
    Ainda passava alguma coisa legal, como Weezer e Placebo no lado B do Kid Vinil, mas a maior parte da programação era porcaria.

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    1. É verdade Lex! Quanto mais o tempo passou, mais a MTV foi se transformando em uma TV POP, mais e mais, e deixando o rock n' roll de lado... Eu me lembro bem de um episódio interessante, que foi o programa Barraco MTV discutindo se o pagode, axé, e outros estilos além do rock deveriam ou não entrar na programação. Foi bem polêmico, mas no final como todos sabemos, a MTV acabou abrindo total para a música popular. Eu acho que já há espaço bastante para esses estilos nos outros canais, já o rock não, por isso deveria ter mantido a linha anterior, com algumas exceções de MTV de qualidade.

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    2. * com algumas exceções de MPB de qualidade.

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