Dorsal Atlantica e os Primórdios do metal no Brasil - parte II
Parte 2 –
Amadurecendo, desbravando SP e o
Brasil, influenciando grandes bandas. Tribos do rock, Rock in Rio e explosão da
moda do rock pesado no Brasil.
O segundo disco: Um novo começo, Antes
do Fim.
No depoimento de Daniel de
Oliveira para o livro Guerrilha!,
O segundo disco foi pioneiro em misturar riffs técnicos do metal com a
simplicidade veloz do hardcore.
Neste disco, além de inovarem no quesito musical, Carlos quis explorar letras críticas e inteligentes, como por exemplo, em HTLV-3: “A decadência moral do mundo faz destruir o próprio mundo. O tempo é curto, a morte é rápida. Alma e corpo vulneráveis”... “As pessoas se incomodam com a "liberdade" que o mundo tem. Se aproveitam de uma doença. Discriminar mais as minorias”. Abordou temas polêmicos como o álcool, com a música de mesmo nome: “O álcool queima o meu corpo. Acaba comigo. Qual é o destino para quem não tem futuro?”, e a inveja: “Se a vida é tão efêmera. Por que tantos sentimentos fúteis?”; É deste álbum também a clássica “Guerrilha”.
Neste disco, além de inovarem no quesito musical, Carlos quis explorar letras críticas e inteligentes, como por exemplo, em HTLV-3: “A decadência moral do mundo faz destruir o próprio mundo. O tempo é curto, a morte é rápida. Alma e corpo vulneráveis”... “As pessoas se incomodam com a "liberdade" que o mundo tem. Se aproveitam de uma doença. Discriminar mais as minorias”. Abordou temas polêmicos como o álcool, com a música de mesmo nome: “O álcool queima o meu corpo. Acaba comigo. Qual é o destino para quem não tem futuro?”, e a inveja: “Se a vida é tão efêmera. Por que tantos sentimentos fúteis?”; É deste álbum também a clássica “Guerrilha”.
A capa, na qual seria mostrada uma foto
de três cadáveres, foi substituída pela famosa caveira, pelo motivo de ser
anti-comercial.
Nas gravações do novo disco, criaram a batida conhecida 1 por 1, com
andamento acelerado na caixa e outra no contratempo, um tipo de
abrasileiramento das batidas dos discos das bandas gringas.
Desbravando SP e o Brasil
Através do então Fanzine “Rock
Brigade”, Carlos começa a entrar em contato com a cena paulista.
“Ouvíamos falar de São Paulo no começo
dos anos 80, mas nem imaginávamos como poderia ser... A existência desta
publicação foi o que me incentivou a escrever para a central paulistana em
busca de informação”. A Rock Brigade
começou como um informativo de um fã-clube de heavy metal. Depois, passou a ser
um fanzine, e finalmente uma revista distribuída mensalmente em todas as bancas
de jornal em 1988.


Inteirados da cena paulista, conseguiram através de correspondência, duas datas para tocar no teatro Lira Paulistana, um importante local que abrigou o movimento chamado “vanguarda paulista”. Além de shows, o Lira abrigou também apresentações de teatro, cinema, artes visuais e demais eventos culturais, tornando-se um pólo de resistência artística e cultural, e um dos símbolos dos anos 80.

Chegando em SP, reuniram uns “brigaders” e foram panfletar em alguns points do centro da cidade para divulgar o show. “Como a produção não havia feito nenhum cartaz, peguei o batom da nossa amiga de mini-saia e risquei mal-traçadas linhas sobre um pedaço de papel que encontramos no chão, e tiramos cópias para distribuir nas bocadas”...“Certamente éramos o primeiro grupo carioca que muitos paulistanos presentes no show, e nas lojas de discos, viram e ouviram em suas vidas”.
A nova sonoridade do disco unindo vários estilos soou estranho pra muita
gente, especialmente em SP. Em um episódio no Rainbow Bar em 86, eles foram agraciados com frases como “punks
cabeludos” e “surfistas voltem pro Rio!”
Quatro dias depois do show no Lira,
estavam desbravando o interior do estado, em Limeira. Segundo ele, lá o povo era mais “fanático”, e sempre que
podia recorria à Galeria do Rock,
reduto dos admiradores do estilo.
Naquela época, o movimento punk ainda era muito forte em SP. Carlos narra que no Brasil havia uma distorção do movimento gringo, e que sob a visão brasileira movimento se tornou muito mais radical. “Essa radicalização se manifestava na música colocando o Brasil na vanguarda do que se produzia lá fora, em termos de som pesado”.
O movimento punk no Brasil tomou um forte viés político, e era composto
basicamente por jovens de classes menos favorecidas. “ A falta de emprego e a
vigilância das autoridades eram as principais bases para que a juventude dos
bairros paulistanos mais carentes utilizasse da agressividade como válvula de
escape e criação artística”. (site história do mundo.com.br). Muitas vezes a
agressividade ultrapassava os limites artísticos e atingia a vida real, como
conta Kid Vinil, em um episódio onde
Clemente (da banda Inocentes), o ameaçou de morte, por ser
Kid Vinil segundo o próprio, “o
primeiro traidor do movimento”.
Naquela época havia também o que a mídia classificou de “tribos do
rock”. “Nos anos 80, para sobreviver era necessário escolher um inimigo, e os
eleitos foram os hippies e os punks, que, em comum com os fãs de metal, também
execravam os ‘ripongas’!”. Como costumava acontecer nos movimentos do século
XX, o movimento atual negava o anterior, no momento era importante para eles
denunciar o que estava rolando de errado na sociedade no momento, e para isso
deveriam ser mais duros e diretos do que acontecia anteriormente. De uma forma
ou de outra, praticamente todos os movimentos do rock buscaram ou buscam a
liberdade, igualdade e a justiça. Na verdade eram diferentes, mas com alguma
coisa em comum. O bonito nessa história é que se você parar pra pensar eles
acabam se complementando em suas mais variadas formas de expressão, e não se
excluindo.
Apesar disso, havia algumas brigas ocasionais entre os heavies e os
punks. “No ABC paulista, quando heavies
e punks se encontravam, nas ruas ou nos trens a caminho do show, o pau comia
sem piedade”. Segundo Carlos, os
heavies nunca tiveram uma ideologia definida, apenas se uniam
musicalmente/esteticamente em bandos. O próprio heavy metal, tendo vários sub estilos,
engloba um público variado que vai ao contestador ao consumista”. “O que
diferenciava a Dorsal das outras
bandas e do público em geral, é que tínhamos um embrião de ideologia própria,
algo confuso, que não se enquadrava em nada: não éramos heavies, nem punks, nem
filósofos e éramos tudo isso ao mesmo tempo. Mas em comum tínhamos o
radicalismo que está implícito no próprio metal”. Em um episódio, João Gordo, considerado pertencente ao
movimento punk, foi hostilizado pelas pessoas ao estar em um festival de bandas
de metal, onde tocaram Dorsal e Sepultura.


Em sua primeira edição, em 1985, o Rock
in Rio lidera o primeiro grande festival internacional no Brasil.
Apesar de o Brasil ter abrigado anteriormente festivais como os da Record, onde Os Mutantes estrearam tocando com Gilberto Gil e apresentando a tropicália para o país, ou o festival de Águas Claras com sua
primeira edição em 75, conhecido como o “Woodstock
Tupiniquim”; o Brasil nunca havia recebido um festival com tantas atrações
internacionais de grande magnitude. “As noites com maior público do Rock n’ Rio foram as de heavy com Scorpions, Whitesnake, Iron Maiden,
Ozzy, AC/DC, comprovando o grande momento pelo qual o rock pesado estava
passando”.
Com a intensa cobertura da mídia do festival, aumentou a quantidade de
“camisetas pretas”, segundo Carlos.
“As bandas de heavy Metal se tornaram conhecidas e as informações sobre elas e
seus fãs chegavam agora a pessoas de diversas classes e gostos musicais. No meu
prédio o meu porteiro me chamava de “Áiron Meidon” (Iron Maiden)!”. Foram 200 mil pessoas presenciar a “noite
metálica”.
Foi com a Dorsal também, que foi realizado o primeiro show unindo punks
e heavies no Brasil, Fato documentado pela socióloga Janice Caiafa em seu livro Movimento
punk na Cidade.
Segundo Carlos, no começo dos 80, o heavy era um estilo de música admirado por garotos do subúrbio, que apesar disso eram muito carentes de informação. Segundo Deise Campos em uma reportagem para o site revoluta.com, “A produção cultural sempre foi intensa e mesmo com a ofuscação provocada pelo verão e suas modas passageiras, o Rio de Janeiro conseguiu seguir as tendências culturais. E foi assim que bandas como Taurus, Dorsal Atlântica, Extermínio, Pacto Social, Gangrena Gasosa,Sex Noise, Poindexter, Desordeiros do Brasil e muitas outras surgiram nos anos 80 e 90 e de lá para cá muitas outras surgiram”.
Segundo Carlos, no começo dos 80, o heavy era um estilo de música admirado por garotos do subúrbio, que apesar disso eram muito carentes de informação. Segundo Deise Campos em uma reportagem para o site revoluta.com, “A produção cultural sempre foi intensa e mesmo com a ofuscação provocada pelo verão e suas modas passageiras, o Rio de Janeiro conseguiu seguir as tendências culturais. E foi assim que bandas como Taurus, Dorsal Atlântica, Extermínio, Pacto Social, Gangrena Gasosa,Sex Noise, Poindexter, Desordeiros do Brasil e muitas outras surgiram nos anos 80 e 90 e de lá para cá muitas outras surgiram”.
O Caverna II, por exemplo,
foi um clube que funcionou em Botafogo, e abriu por influência do Rock in Rio
do mesmo ano, de 85. O bar anteriormente funcionava na Baixada Fluminense.
Alexandre Bolinho, em um depoimento para o site citado
anteriormente, fala sobre o Caverna e a cena da época: “Fins dos
80’s, era um amontoado de headbangers rasgados e punks malcheirosos! Me
identifiquei com os malcheirosos e me tornei um deles. Os shows não eram muito
freqüentes – tinha o Caverna em
Botafogo e, raramente, Circo Voador.
O público era “sempre as mesmas caras” e isso acabava aproximando – tenho
amigos daquela época até hoje. Muitas bandas de thrash metal e algumas punks
bacanas. No início dos 90’s a coisa começou a crescer – lembro que a gente ia
pro recém inaugurado Garage pra ver
vídeos do DRI. Trocávamos fitas k7
pra nos atualizar com as novidades. Era mais duro, lembro que quando a gente
descobria uma banda foda e dividia com os amigos, era coisa pra um mês
comentando”.
O show de lançamento do Caverna II foi com a Dorsal, com Marcos Animal na bateria.

A rivalidade entre Zona Sul X Zona Norte era forte. “Éramos muito
populares na época, e junto a tudo isso havia um sentimento de violenta
desunião e desagregação que pairava no ar. Até mesmo no advento das rodas de
pogo, o grande lance era levar correntes, as mais pesadas possíveis (geralmente
furtadas na rua) para bater no chão enquanto rolava o som!”.
Segundo Carlos, um outro show
no Caverna II em 86 foi entrecortado inclusive por pessoas da Zona Sul com um
coro: SUBÚRBIO! SUBÚRBIO!
No Rio de Janeiro a cena surgiu no subúrbio, migrando após também para a
Zona Sul.

Segundo ele, surgiu uma oportunidade de assinarem com a Cogumelo, de Belo Horizonte, mas recusaram porque ele acreditava que seriam contratados apenas por modismo. Ao mesmo tempo confessa que a decisão de assinar com uma gravadora inicial os prejudicou bastante, mas acredita que foi uma decisão correta por terem o controle de todos os passos da banda.
A Cogumelo records surgiu em BH primeiramente como uma loja de discos nos anos 80, que virou point entre a galera heavy da época, passando a ser também uma gravadora de bandas do estilo. Gravou o primeiro álbum do Sepultura, um split álbum com Sepultura e Overdose. A gravadora foi de grande importância para divulgar as bandas do estilo, e foi fundamental para que elas conseguissem gravar um vinil, algo comum apenas para as bandas gringas na época. Gravou bandas como Sarcófago, Sepultura, Sextrash, Headhunter DC, Holocausto, Overdose, Attomica, Ratos de Porão e Dorsal Atlântica (mais pra frente), dentre outras.
Assista o documentário sobre a Cogumelo Records e conheça melhor sua
importância:
(fonte: http://whiplash.net/).
No novo disco Dividir e Conquistar, houve um amadurecimento da banda. “As letras haviam ficado mais maduras. Versando sobre assuntos pouco comuns ao nosso universo como ‘Velhice’, ‘Violência é Real’ (sobre um assalto de ônibus que presenciei no ano novo de 87) e ‘Preso ao Passado’”.
Houve também uma significativa mudança de visual. Ao invés das correntes e tachas e couro negro, eles optaram por algo mais despojado.
O disco teve uma repercussão ótima, com a prensagem esgotada em SP. Além disso, obtiveram ótima colocação dentro da eleição de melhores do ano da revista Rock Brigade.
Com Dividir, alcançaram uma enorme popularidade, indo além do eixo RJ/SP/MG, (onde eram a banda do estilo que mais tocava nessas regiões), para chegarem em Manaus e Belém, sendo recebidos por centenas de pessoas, segundo Carlos, munidas de faixas e gritos.
*Depoimentos de Carlos Lopes
retirados do livro: "Guerrilha! A história da Dorsal Atlântica", de Carlos Lopes.
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