Reveillon de 1976 foi de Rock na Rede Globo
Por Luiz Domingues.
Após o sucesso do Sábado Som, e mesmo sendo uma emissora arredia para com o Rock, normalmente pela sua orientação conservadora por natureza, a Rede Globo dava sinais que mesmo contragosto, não podia ignorá-lo, mesmo porque era uma época onde a MPB mais atuante, era quase que orientada pela mesma matriz.
Após o sucesso do Sábado Som, e mesmo sendo uma emissora arredia para com o Rock, normalmente pela sua orientação conservadora por natureza, a Rede Globo dava sinais que mesmo contragosto, não podia ignorá-lo, mesmo porque era uma época onde a MPB mais atuante, era quase que orientada pela mesma matriz.
Não se pode deixar de mencionar que
desde que entrou no ar em agosto de 1973, o dominical, “Fantástico” tinha como
quadros fixos, até pelos menos 1978, a exibição de clips produzidos
exclusivamente para ele próprio, um internacional, geralmente promos ou trechos
de shows ao vivo, e no caso dos artistas nacionais, inúmeras bandas de Rock
brasileiras se valeram dessa abertura, tais como O Terço; Mutantes; Made in Brazil;
Secos & Molhados; Casa das Máquinas; Raul Seixas; Erasmo Carlos etc etc.

Nesses termos, arquitetava em sigilo um
novo programa a ser lançado em 1977, mais ou menos nos moldes do Sábado Som de
1974, mas remodelado, que viria a ser o Rock Concert.
A base seria a mesma, ou seja, exibição
de shows ou performances em estúdio de TV, de bandas internacionais em voga,
valendo-se do acervo de programas americanos e europeus, do tipo “Don
Kirshner’s Rock Concert; Midnight
Special; Beat Club; Sights & Sounds da BBC de Londres; Rockpalast;
Musicladen da Alemanha; Ratata da França, além do acervo das TV’s Granada da
Inglaterra; e Rai, da Itália, sempre abertas e generosas ao Rock.

O diferencial em relação ao velho
Sábado Som, seria uma locução em off, falando dos artistas enfocados, mas com
informações mais enxutas, ao contrário das intervenções mais robustas da parte
do crítico musical, Nelson Motta, e nesse aspecto, seria uma pena não contar
com a sapiência de tal jornalista cultural experiente e antenado.
Mas, esta matéria não é para dissecar o
Rock Concert em si (falarei sobre isso em outra matéria, naturalmente), mas
para falar de seu “balão de ensaio”, que a Globo soltou de uma forma muito
inusitada.
Para quem vive os dias atuais e se
acostumou com os especiais de Reveillon que tal emissora coloca no ar,
recheados de artistas popularescos (e observo com pesar que a cada ano o nível
abaixa-se conforme a tendência que nos norteia em eleger a subcultura de massa
como objeto de retroalimentação, num efeito de círculo vicioso dos mais
perniciosos da história da difusão cultural neste país), é difícil crer que lá
no longínquo Reveillon de 1976, anunciando a entrada de 1977, um especial de
Rock foi colocado no ar, para tal celebração.
Chamado “Rock Concert”, a partir da
passagem do Natal de 1976, foi divulgado na grade da emissora como a atração a
ser exibida na noite de 31 de dezembro de 1976, com ênfase, eu diria, e claro
que os Rockers agitaram-se com tal perspectiva.
Nós, telespectadores comuns, não
sabíamos, mas era um teste que a emissora fazia, talvez julgando ser um dia em
que as pessoas em geral estavam preocupadas com suas comemorações familiares e
pouca audiência fornecesse nessa noite, portanto, um dia propício para testar o
novo produto que planejavam colocar na grade, algum tempo depois.
Estratégias de marketing à parte, para
nós, Rockers, não importavam os objetivos desses executivos da emissora, mas o
conteúdo que seria disponibilizado.
E assim, com uma locução em off, bem
discreta e fornecendo dados generalizados de cada artista que foi exibido, um
especial de uma hora de duração ocorreu na meia noite de 31 de dezembro de
1976, nos dando um Feliz Ano Novo Rock, memorável.
Era inacreditável estar sintonizado
numa emissora de TV nesse dia e nessa hora, vendo performances de bandas
absolutamente incríveis e fora de qualquer esquadro popular que justificasse
tal exibição, mas...aconteceu...

O Hard-Rock
sensacional do Bad Company, uma banda formada por ex-membros de bandas
importantes da cena britânica, que era apadrinhada pelo Led Zeppelin, e
empresariado pelo mesmo manager da banda de Page; Plant & Cia., Peter
Grant, também animou a festa do Reveillon Rocker de 76 na Globo.
Absolutamente incrível a festa dos
italianos da Premiata Forneria Marconi, popular “PFM” entre seus fãs (me incluo
nesse rol, grazie a Dio!!), numa rara exibição dessa grande banda de Rock
Progressivo da terra do macarrão, aqui no Brasil.
Indo além, como imaginar assistir numa
noite de Reveillon, uma performance do Gentle Giant, um dos nomes mais
sensacionais do Rock Progressivo britânico ?
Banda de trabalho hermético, difícil
até para fãs do próprio gênero progressivo, dada a sua técnica e o caráter
cerebral de sua obra e arranjos sofisticadíssimos, era inacreditável vê-los ali
numa data incomum dessas, tocando peças como “In a Glass House”, com forte
tendência experimental, nada “pop”, portanto.
Outra participação
muito especial e rara na TV brasileira, foi a de Todd Rundgren's Utopia, uma
banda liderada pelo louquíssimo guitarrista Todd Rundgren, que não era muito
conhecido dos Rockers brasucas, a não ser pelo fato de ter sido produtor de
alguns álbuns do Grand Funk Railroad.
Além dessas quatro atrações, sensacionais por si só, ainda teve um pouco de Soft Rock, da parte de Cat Stevens, um artista igualmente muito bom, e bastante querido pelos Rockers em geral, penso assim, também.
Bem, como já disse, muitos anos depois
o Reveillon da Globo ficou no comando do Faustão, e já de uns anos para cá,
mesmo sem a presença de tal comunicador, são especiais recheados de artistas
popularescos de ocasião, destes que os marketeiros inventam e jogam goela
abaixo do povo, o tempo todo.
Mas houve um Reveillon na Rede Globo,
onde o Rock de alto padrão foi a atração em seu momento de clímax, à meia
noite...e foi em 1976.
Puxa que Reveillon maravilhoso, bem que poderia ter continuado dessa forma, ver tantas bandas excepcionais assim reunidas e num dia que tantos consideram especial. Muito legal!
ResponderExcluirPois é, amiga Jani...eu diria que foi o melhor para um jovem Rocker setentista, que eu era, já em adiantado processo de impulsão para pular da prancha e mergulhar nas águas mágicas do Rock...
ExcluirInacreditável que essa atração tenha acontecido nessa data e na Rede Globo, se bem que exista a ressalva de que naquela década tal emissora ainda não estava 100% entregue à mentalidade popularesca e assim, havia espaço para vida inteligente ali...
Legal que curtiu !!
Valeu por ter comentado !!
Reveillon com Rock é tudo de bom, imagine com essas grandes bandas? pena que o nível da Globo caiu drásticamente em programas de final de ano, principalmente musicais...incrível matéria, excelente, parabéns amigo!
ResponderExcluirPois é, Kim !
ExcluirEssa lembrança que tenho desse Reveillon é realmente incrível e só tenho a concordar contigo quando lamenta que nos dias atuais, 40 anos depois, ao invés de melhorarmos o padrão cultural na TV, muito pelo contrário, estejamos constatando uma queda abissal...
Super grato pela sua participação, amigo !!
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