Luiz Carlos Maciel, o filósofo que entendeu a profundidade da contracultura
Por Luiz Domingues
A contracultura incomodou bastante, talvez mais ainda do que se fosse uma força opositora declarada ao sistema.
A contracultura incomodou bastante, talvez mais ainda do que se fosse uma força opositora declarada ao sistema.

Tecnicamente
falando, a contracultura é uma forma de pensar criticamente sobre os valores da
cultura oficial aceita pelo sistema com a qual a sociedade (e entenda-se isso
muito mais baseado na sociedade tradicional ocidental, visto que em termos
orientais isso não faz muito sentido) se ordena.
Numa
amálgama grande de correntes de pensamentos e manifestações culturais as mais diversas,
a contracultura, tratada assim como um “todo”, foi um dos pilares do movimento
Hippie.



Luiz Carlos
Maciel é um filósofo brasileiro que enxergou os méritos da contracultura e do
movimento Hippie. Em linhas gerais, salvo honrosos pares, Maciel é o maior
estudioso e defensor de tais fenômenos socioculturais, do Brasil.

Envolvido
com teatro e cinema, foi aos Estados Unidos para estudar direção de teatro e de
lá voltou arrebatado pela efervescência que já borbulhava no início da década
de sessenta.
Com o teatro
de Samuel Beckett na ponta da língua, muita música e contato direto com as ideias
do movimento literário da Beat Generation, Maciel fisgou rapidamente os
primeiros sinais da contracultura a moldar os ideais Hippies, entusiasmando-se com essa
nova forma de encarar a vida.

Nessa publicação, manteve por um bom tempo uma coluna chamada “Underground”, onde falava tudo sobre a contracultura no Brasil e no mundo. Por um bom tempo, tal coluna foi um verdadeiro oásis em meio ao deserto tupiniquim e seu inerente atraso. Coloca-se igualmente nessa conta o fato da ditadura militar estar entrando no seu auge da truculência, portanto, ter uma coluna falando sobre Hippies cabeludos; Shows de Rock; literatura; cinema & teatro engajados nesses valores, além de citar Carlos Castañeda; Ken Kesey; Timothy Leary e as experiências de “Open Mind” com drogas alucinógenas, era no mínimo, de uma ousadia sem precedentes na imprensa brasileira de 1969.
Editou
depois disso um pequeno fanzine chamado “Flor do Mal”, antes de encarar fazer
parte da edição brasileira da Revista Rolling Stone, bem no início dos anos
setenta.


Quase
chegando na metade daquela década, foi figura importante no staff da Revista
“Rock, a História e A Glória”, onde aliás eu o conheci e passei a admirar seus
artigos, notadamente falando de contracultura.
Concomitante
à sua atuação em jornais e revistas como colunista, Maciel lançou muitos livros
e também trabalhou anos na Rede Globo, e posteriormente na Rede Record,
cuidando da elaboração de programas e escrevendo roteiros.
Entre seus
livros, cito : “Samuel Beckett e a Solidão Humana”; “Sartre, Vida e Obra”; “Nova Consciência”;
“Anos 1960”; “Gravação em Transe, Memórias do Tempo do Tropicalismo”; “As
Quatro Estações”; ”Sol da Liberdade” etc.
Chamado por
muitos como o “Guru da Contracultura”, Maciel faz menção a não gostar da pecha
e eu o entendo, porque rótulos tendem a ter carga pejorativa. A intenção é de
deboche, eu imagino, portanto exercendo a triste intenção explícita de
menosprezá-lo enquanto pensador e notadamente as ideias que defende. Nesse
aspecto, fecho com ele e repudio a tentativa de escárnio da parte de seus
detratores.
Recentemente,
mostra-se ativo nas Redes Sociais. Não faz muito tempo, um primo meu que sabe
do meu apreço pela Contracultura / Movimento Hippie, mostrou-me um pensamento
de Maciel, do qual apreciei muito.
Maciel
prepara livro novo. Desta feita fará uma explanação sobre como o filósofo
Heidegger embasa o movimento Hippie através de seu raciocínio.
Caramba...Heidegger
? Por anos nos acostumamos com a ideia de que Herbert Marcuse era o scholar /
filósofo mais simpático aos ideais do movimento Hippie. Quais seriam os
argumentos de Maciel sobre outro pensador ter essa proximidade com os ideais
aquarianos ?
Portanto, segundo Heidegger, o homem desviou-se da visão holística da vida e não é de se admirar que vemos nos dias atuais os brinquedinhos tecnológicos a cada dia mais dominando os seres humanos.
Por décadas,
desdenhou-se dos hippies sessentistas e sua proposta de vida frugal ao ponto de
muitas pessoas terem formatado conceito de repulsa ao movimento e mais que
isso, tendendo a repetir o escárnio que ouviram da boca de seus pais e avós
sobre os Hippies e seus ideais, sedimentado como paradigma.
De fato, os
Hippies eram / são em essência, rurais, cultuadores da vida em natureza, da
prática in natura sob todos os aspectos e Heidegger criticou a sociedade
embasada pelos valores da ciência pura e simplesmente.
Por essa
via, Maciel defende a tese de que a sociedade vista pelo padrão tecnológico não
dá a resposta definitiva sobre como devamos conduzir nossa existência.
Volta às
cavernas, então ? Retrocesso, contradição ?
Nada
disso...pelo contrário, a ideia é mostrar que a simbiose entre a vida mais
natural e a tecnologia possam conviver pacificamente.

Aguardemos a
obra do mestre Maciel, portanto, que deve estar chegando às livrarias, onde
novas luzes nos chegarão sobre a verdade a respeito dos ideais hippies.
Outro grande texto Luiz .. parabéns.
ResponderExcluirMuito grato, amigo Possibom !!
ExcluirMuito bom o texto Luiz! Adorei!
ResponderExcluirMuito legal ter sempre o seu apoio e mais uma vez demonstrando ter gostado do texto.
ExcluirGrande abraço, Lourdes !