Chega de Lamúrias, é hora de trabalhar a favor e não perder tempo em amaldiçoar contra
Por Luiz Domingues
Nos últimos anos, com o advento e crescimento em
popularidade das redes sociais da Internet, eis que um clamor generalizado
transformou-se em uma espécie de paradigma paralisante em torno de uma ideia
derrotista, a espalhar a lamúria, a
desolação e absoluta falta de perspectiva em vislumbrar-se dias melhores para a
cultura em geral e a música em específico. Tal percepção tem uma fonte
concreta, eu sei disso, se analisada pela ótica em que realmente os difusores
culturais que comandam a mídia mainstream optam acintosamente pela propagação
do popularesco como ordem a ser imposta às massas e na contrapartida,
estrangula artistas que versam suas obras pelo caminho diametralmente oposto.
É despótico, cruel, é um “lobby do mal”, a alimentar
teoria da conspiração, enfim, tudo isso e muito mais, que nem sonhamos haver
por trás dessa manipulação etc e tal. Mas a pergunta que faço e não quer calar
é a seguinte : lastimar nas redes sociais ajuda exatamente em quê, para
acharmos soluções a quebrar esse monopólio ?
Não descarto, inclusive, que a manipulação seja mais
sutil do que deduzimos e haja o fomento inicial para que o incitamento seja tão
acintoso. Aliás, tática bem tradicional, antiga e que remonta à antiguidade, o
ato de sabotar com maledicência é público e notório, principalmente agora que
as ferramentas disponíveis na internet estão a cada dia mais rápidas e
acessíveis a qualquer cidadão. Portanto, estão aí os robots eletrônicos, os
departamentos de call center; marqueteiros e especialistas em espalhar “Fake
News” em sua vergonhosa estratégia para difundir mentiras e angariar simpatia
de incautos em geral, que tratam de tornar tal vírus, um agente a favor da
metástase.
Esta reflexão não é sobre política, tampouco gestão
pública, propriamente dita. Estou a falar sobre a questão do papel dos órgãos
difusores de cultura e sua opção antidemocrática pelo monopólio a difundir
apenas o que interessa-lhes e isso, irremediavelmente significa a acintosa
opção pelo popularesco, quiçá o grotesco. Sei que o assunto abre precedentes
para a contra-argumentação baseada no relativismo. Rapidamente vozes
levantam-se para questionar o que é arte, e a percepção diferente sobre o que é
bom e o que não é. Análise técnica de músicos; técnicos de áudio; musicólogos;
historiadores da arte; jornalistas & críticos especializados e outros
tantos experts, opinam e uma conclusão é inquestionável : a arte é livre,
certamente.
Dessa forma, é razoável aceitar a ideia de que o
grotesco também é uma forma de expressão e merece o seu quinhão de atenção
midiática. Nem é esse o ponto, pois o que questiona-se, na verdade é o advento
do monopólio. Isso sim é um ato de tirania e que deve ser extirpado. Por
decreto ? Esperar pela boa vontade dos senhores legisladores, essa congregação
conspurcada pela corrupção ? Ou mesmo um arroubo de consciência dos
marqueteiros que somente visam nadar na piscina formada pelo dinheiro fácil que
a opção pela anti cultura de massa proporciona ? Não dá para esperar que um
sentimento edificante, norteado pela ética superior venha dessa gente mesquinha,
que deseja apenas arrancar todas as moedas possíveis do bolso alheio a
alimentar sua magnificente vida materialista, baseada na extrema futilidade,
sob o luxo desmedido.
O que fazer, então para mudar tal estado de coisas,
essa sensação exasperante que tudo está destruído e não existe mais arte neste
mundo ? Ora, penso que uma medida plausível para o cidadão comum é usar a
ferramenta da internet com mais inteligência e não deixar-se levar pelo
sentimento pessimista generalizado. Não é preceito esotérico e muito menos
frase feita extraída de livro de “autoajuda”, mas se cada vez que for postar um
lamento na rede social a denunciar que a música atual é um lixo e pior ainda,
cair na armadilha dos marqueteiros inescrupulosos e gastar sua postagem para denegrir
a imagem de artistas que professam a baixa estratificação cultural, na verdade,
você estará a fornecer-lhes, mais notoriedade.
Creio que a melhor medida é nadar contra a maré
arquitetada pelos artífices de tudo isso e assim, ao invés de reclamar e / ou
atacar, usar seu poder individual na internet (e nas relações sociais não
virtuais, igualmente), para difundir artistas que militam no mundo underground,
com grande dificuldade para atrair a atenção do público. E isso, eu posso
garantir, temos em enorme proporção. Em suma, artistas inspirados, muito bem
preparados tecnicamente pela formação musical e no apuro pelo áudio em termos
de gravação de seus trabalhos e uso de equipamentos de ponta; com mensagem
artística forte, amparados pela literatura e sob as mais nobres influências de
uma arte edificante, existem em enorme profusão. Descobri-los e difundi-los,
não é difícil, pela existência (ainda) de uma internet livre, portanto, basta
pesquisar, que eles estão aí.
Portanto, acredito que a tomada de consciência parte
de nós, mesmos. Que não gastemos mais o tempo para espalhar a angústia
desoladora, mas ao contrário, espalhemos gotas revitalizantes de otimismo e ao
contrário do que observamos na internet, artistas incríveis estão a atuar e só
precisam ser enaltecidos para crescer e encontrar um lugar ao sol.
Ignoremos o que os marqueteiros impõem através das
trilhas das novelas, programação das emissoras de rádio e os programas
popularescos da TV. Espalhe o que é bom e pare de fortalecer o “mimimi” nas
redes sociais.

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