A MAIOR FLOR DO MUNDO


Por Virginia Barreira.


"A José Saramago, um dos meus grandes amores."


 "Era uma vez (porque toda estória infantil deve começar assim) uma menininha solitária.

Tinha por nome Ana e passava os dias a brincar no quintal da casa, entre matos que cresciam independentes.

Ninguém se lembrava de Ana. A mãe tinha mais oito filhos e o pai nem recordava de todos os nomes.

Ana se escondia no matagal. Nas manhãs conversava com formigas, à tarde deitava-se sobre o mato para olhar os pássaros. Quando chegava a noite, ao ouvir a arrumação da cozinha, logo entrava dizendo “noite, mãe”, direto para sua caminha.

 Mas lá bem longe, também atrás da casa, havia um monte.

No alto havia uma pequena Flor, de poucas folhas e vertente estreita.

Dia após dia, Flor olhava para Ana e imaginava o que uma garotinha tão pequena fazia ali no verde da terra.

Flor tinha dó da menininha, tão muda, quietinha.

Decidiu que iria fazer alguma coisa.

Enterrou fortemente as raízes no chão e sugou a seiva do solo.

Esperou cada minúscula gota de orvalho cair e abriu seus tentáculos florais para sugá-las.

Aguardou por meses uma chuvinha pequena e embebedou-se.

Por fim... cresceu.

 


Amanheceu...

Lá se foi a pequena Ana para o quintal.

Nessa manhã, todavia, seus olhos perderam-se no horizonte.

- Mas que...

Linda...

Flor...

No...

Monte!


Cheia de curiosidade e medo, decidiu que poderia, naquele dia, sair de seu refúgio.

Ana foi subindo, subindo....

Veja, se encontraram!

A menina jamais tinha visto Flor tão linda.

Amou Flor com todo o seu coração, acariciou-o e com ele, pela primeira vez em muito tempo, chorou.

Ana tinha descoberto um amigo.

Imagem relacionada

Os meses foram passando e aos poucos os olhos da menina aprenderam a ver além do estreito limite do sonho; Começaram a enxergar o que existia além dos montes, outras terras, casas distantes... como era grande o mundo!

Ana estava feliz, e Flor, também.

Mas, certo dia, Flor começou a murchar.

Ana ficou melancolicamente triste.
 
Mas, sabia que para tudo, na vida, havia

“O fim”.

Despediram-se com absurdo amor.

A despeito da dor e da descoberta da saudade,

Ana olhou para o Sol,

Agradeceu tudo o que podia.

Recolheu as sementes de seu melhor amigo e passou por aí, pelo resto da vida, a semear montes e montanhas.


                                                                     

E este... é o final feliz."












Comentários

  1. Muito Obrigada, Fernanda. Fiquei muito feliz com a postagem e muito grata! Espero que gostem. Mil beijos.

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