Uma História Moderna
Por Luiz Domingues.
Esta é a
história de um menino, cujo perfil denotava uma capacidade de liderança
agressiva, algo notado desde os tempos em que frequentara a escola infantil. Seus pais não achavam isso errado e pelo contrário, tomavam tal característica
natural de seu filho como uma qualidade, praticamente um dom. Isso por conta de
que o casal tinha em mente um estilo de vida no qual a ideia da extrema
competitividade era encarada como algo salutar e nesses termos, se os seus pais
enxergavam o mundo como se fosse uma pista de atletismo e somente o vencedor da
corrida merecia os louros da vitória e os demais, a pecha de “perdedores”, foi
natural que ambicionassem tal meta para o seu filho, ou seja, competir e
sobrepujar os demais, sempre foi a palavra de ordem no Lar dessa família, e
portanto, ponto pacífico a ser introduzido na educação de seu filho. Ele tinha
que ser o melhor bebê da creche; o melhor da escola infantil; o primeiro entre
os seus primos e pior ainda, instruído a desprezar os seus concorrentes
derrotados.
Forjada tal
mentalidade, não foi surpresa que tenha chegado à idade escolar de maneira a
encarar todos os seus colegas como adversários para ser abatidos e assim, em
todos os quesitos, só colocou-se a fomentar a sua agressividade, cada vez mais.
Todavia, não ficou apenas nesse senso de disputa, pois a reboque, veio também a
arrogância; a soberba e claro, o complexo de superioridade. Se todos estão
abaixo e mostram-se inferiores, em sua linha de raciocínio, sem saber ele criou
algo além da antipatia da parte de seus colegas; mas o senso de vazio, com o
qual não sabia lidar, visto que sem amigos, mas apenas a encarar os demais como
adversários, simplesmente não tinha amigos, a não ser os bajuladores, pelos
quais ele também nutria desprezo, pelo fato de os considerar criaturas
abomináveis pela própria subserviência vergonhosa com a qual devotavam-lhe a
atenção. Em suma, só havia uma maneira dele ter uma amizade que fosse, ou seja,
se encontrasse alguém que pensasse absolutamente igual à ele. Entretanto, a
mostrar-se o supra sumo do paradoxo, ele raciocinou bem e chegou à conclusão de
que se encontrasse alguém à sua altura, não haveria por que nutrir amizade, nem
que fosse em termos de pacto de não agressão mútua, pois a natureza de ambos
haveria por impeli-los a competir e daí, a travar um embate mortal, pois apenas
o vencedor mereceria sobreviver, por uma questão de coerência.
Em suma, o
mundo em que ele acreditava só fazia sentido se em cada segundo houvesse uma
nova disputa. Tratava-se de um mundo selvagem, regido pelo mais animalesco
sentido de egoísmo, travestido como um instinto de sobrevivência, portanto,
algo primitivo, digno de uma mentalidade pré-histórica, onde o homem dera os
seus primeiros passos em relação à construção da civilização e por conta disso,
ao raciocinar de uma forma torpe, poucos graus acima do instinto animal pela
sobrevivência.

Nesses
termos, por uma extrema ironia do destino, tornou-se relativa a evolução da
tecnologia, pois se na questão mais trivial da vida em sociedade, o que rege os
movimentos de todos, é o sentido da competitividade, na prática, ainda não saímos
das cavernas, visto que a ideia da solidariedade ainda não é uma norma na
sociedade, mas muito ao contrário, tratada como um conceito piegas, quiçá
ingênuo da parte de pessoas que simplesmente não enquadram-se na grande
competição. “Estão dizendo que é para competir... mas eu só penso em te
ajudar”... título e frase da letra de uma música dos Mutantes, lançada no
longínquo ano de 1974, mostra o quanto vislumbramos chegar perto de uma nova
realidade, mas desperdiçamos a chance e voltamos a acreditar que precisamos
“competir” uns com os outros, tendo no bojo, o desprezo aos semelhantes, que
são “adversários”; “concorrentes” ou até pior, “inimigos”.
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Após ler o texto nos cabe uma reflexão: Será que o caminho é
nos conformarmos com essa situação, ou tentarmos resgatar o sonho perdido no
passado para que as próximas gerações tenham a possibilidade de transformar
essa realidade?
Eu gosto muito de uma frase que diz: “não importa o que
fizeram com você, e sim o que você faz com o que fizeram com você”.
O futuro está em nossas mãos.
E a boa notícia é: A música é eterna! 😍😏💗 Ouça pra se inspirar!
Excelente texto, Luiz. Acho mesmo que devemos voltar ao tempo em que "Tudo era feito pelo sol" e "Deixar entrar um pouco d'água no quintal".
ResponderExcluirGrato pela leitura e elogio ao texto, amigo Vanderlei !
ResponderExcluirDe fato, certos valores esquecidos deveriam ser reativados, aliás, urgentemente !
Grande abraço !