Vida de Músico




Por Antonio Pedro Fortuna

O Rock’n’Roll do Elvis Presley, Bill Haley e Celly Campello se misturava com a música negra americana, notadamente o R&B e o Soul, entre as minhas preferências musicais. Esse som dançante embalava os bailes e as pistas de dança que eu gostava de frequentar na minha adolescência.



Minha irmã ganhou um violão e logo aprendi os primeiros acordes e comecei a dedilhar. Aí surgiram os Beatles e foi aquela revolução. Todos queriam uma guitarra, um baixo ou uma bateria. A primeira que ganhei, para desespero dos vizinhos, foi uma Giannini Ritmo 2. Comprei um amplificador Ipame usado e montei a minha primeira banda com amigos. Tocamos em algumas festinhas com duas guitarras e uma bateria incompleta.

Na época, ninguém tinha um baixo e eu me interessei pelo instrumento. Conseguia tirar de ouvido as linhas do Paul McCartney e fui me entusiasmando. Até que arrumei um baixo emprestado e comecei a tocar numa banda que já se apresentava nas domingueiras da cidade (Niterói). Era um Giannini fretless (sem trastes) duro e difícil de tocar. Logo fiquei cheio de bolhas nos dedos, mas não desisti. Tinha uns quinze anos incompletos.


Então comprei o meu primeiro baixo. Era um Harmony, que um conhecido trouxe dos EUA. Ganhei também um amplificador Phelpa, potente para a época, e meu som foi melhorando.

Naquela época era tudo muito novo por aqui. Poucas bandas dispunham de um equipamento mais profissional. Nos sentíamos verdadeiros bandeirantes desbravando a “Terra Brasilis”.

Lembro quando “A Bolha” tocava nos clubes da cidade e eu ficava admirando uma guitarra Gibson, um amplificador Fender ou uma bateria Ludwig.

Depois comecei a compor e a promover alguns shows na cidade. Naqueles tempos de ditadura, era uma burocracia sem fim para liberar locais e letras de músicas originais. Tínhamos que submeter tudo à censura e aguardar muito tempo pela liberação.


Então fui estudar música no Instituto Villa-Lobos, na praia do Flamengo. Escola de nível superior e vanguardista que ocupou a sede da UNE (União Nacional dos Estudantes) invadida pelos militares. Entrei para uma banda e fizemos alguns shows no MAM (Museu de Arte Moderna), no colégio Zaccaria e também no teatro da escola.


Até que houve uma intervenção na escola e colocaram um general como diretor.                 Resolvi sair e viajei para Londres onde morei um tempo, mas resolvi voltar pra minha terra onde tem palmeiras e onde canta o sabiá (risos). Estava muito frio por lá.


Conheci Lulu Santos e entrei para o “Veludo Elétrico”, com Rui Motta, Túlio Mourão e Paul de Castro. Depois vieram Os Mutantes do disco Tudo Foi Feito Pelo Sol.

A censura continuou atrapalhando muito e lá por volta de 1980 a Dona Solange, diretora do Departamento de Censura Federal, era a principal vilã dos artistas em geral.

Quando a ditadura terminou, em meados dos anos 80, muitas bandas novas surgiram. As gravadoras investiram no Rock e a infra-estrutura para shows (teatros etc.) aumentou.


Até que o fenômeno da Internet, com todos fazendo downloads gratuitos de músicas pela rede, modificou bastante o cenário. Muitas gravadoras fecharam ou diminuíram. Para as bandas novas está mais difícil se destacar e o trabalho independente se tornou primordial.

A vida de músico não é fácil e é preciso estar preparado para dar a volta por cima e também saber aproveitar as oportunidades que apareçam.

Para quem está começando, boa sorte e boa viagem!











    Antonio Pedro Fortuna nasceu em Niterói, é músico, e tocou nas bandas Veludo Elétrico, Blitz (a original), Mutantes, e com os artistas: Tim Maia, Lulu Santos, Raul Seixas e Lobão.

Comentários

  1. Excelente a matéria !!

    Na verdade, um texto autobiográfico e que tem muito valor para quem acompanha a trajetória desse grande músico do Rock brasileiro.

    Acompanho o Antonio desde o lançamento do LP "Tudo Foi Feito Pelo Sol", dos Mutantes e sou fã de seu trabalho.

    Parabéns ao Blog Limonada Hippie por publicar esse tesouro, com as palavras do mestre em pessoa !!

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