Betinho e seu Conjunto, precursores do Rock n Roll no Brasil
Por Luiz Domingues
Há muita controvérsia quando o assunto
é a origem do Rock brasileiro.
A maioria das pessoas tende a achar que o Rock brasileiro nasceu nos anos oitenta, quando Evandro Mesquita e sua Blitz apareceram no dial das FM’s do país inteiro, falando sobre batatinhas / você não soube me amar bla bla bla.

Pura balela, o Rock brasileiro já existia desde os anos cinquenta, a despeito da má vontade histórica de uma boa parte da mídia, e seus indefectíveis “formadores de opinião”, que negam /sonegam essa informação, com a nítida intenção de incensar seus protegidos, distorcendo a história.
A realidade, portanto, nos remete aos
anos cinquenta, e apesar do atraso com o qual os brasileiros sempre recebiam as
novidades culturais vindas do primeiro mundo, a explosão do Rock’n Roll chegou
quase simultaneamente por aqui.
Há quem defenda a tese de que a
primeira Rocker do Brasil fora Nora Ney.

De fato, ela lançou em 1955, um
compacto com a versão da música “Rock Around the Clock” que fazia parte da
trilha sonora do filme “The Blackboard Jungle” (“Sementes da Violência”),
portanto, pode ter sido a primeira artista a gravar um Rock no Brasil, mas é
público e notório que tal gravação houvera sido por pressão da gravadora, para
aproveitar o sucesso internacional do filme e da canção, e Nora só fora
convocada a gravar, pois entre as cantoras do cast da gravadora, era a única
que tinha uma melhor pronúncia do idioma inglês, e na impossibilidade de gravar
numa versão em português, essa foi a melhor solução para gravar e lançar o mais
rápido possível.
Nora Ney era uma cantora de repertório
comedido dentro da MPB da década de cinquenta, sendo ela mesma, uma egressa da
onda das “Cantoras do Rádio”, um espectro amplo, tradicional, e ainda mais
remoto na história da MPB e do radialismo nacional.
Sendo assim, se Nora gravara o primeiro Rock, fora absolutamente a seu contragosto, e numa segunda leitura óbvia, sem nenhum comprometimento com tal estética, aliás, pelo contrário, lhe causando um certo constrangimento pessoal (é bem verdade que no final da vida, já idosa, tal fato passou a ser explorado em seu portfólio, e virou mote importante para seu empresário vender seus shows, e um amigo meu, com o qual toquei nos anos noventa, Juan Pastor, baterista do Pitbulls on Crack, chegou a ser de sua banda de apoio).

Mas a hipótese mais plausível, em se considerando a intenção concreta, é no entanto, a de que a primeira gravação de um Rock, de fato, teria sido através de “Betinho e seu Conjunto”.
Betinho (Alberto Borges de Barros),
líder dessa banda, era o guitarrista, e sua trajetória musical começou bem
cedo, pois era filho de Josué de Barros, um produtor musical que descobrira,
ninguém menos que Carmem Miranda...
Na adolescência, Betinho chegou a tocar
violão com a “Rainha dos Balangandans”, um motivo de orgulho para o seu
curriculum pessoal.
Entre 1941 e 1946, foi membro fixo da
orquestra de Carlos Machado, tocando em muitos cassinos, naturalmente.
Nos anos cinquenta, foi um dos primeiros
músicos brasileiros a tocar guitarra elétrica em suas apresentações, e formou
sua banda, “Betinho e Seu Conjunto”.
Seu espectro musical era muito amplo,
indo da MPB tradicional aos ritmos nordestinos; do som caribenho ao Jazz, com
abertura para todo tipo de música étnica, muito antes de ser cunhado o termo
“World Music”.
Sua linha de atuação era eclética,
também, indo de bailes em salões de clubes, até boites / casas noturnas etc.
Já havia emplacado um sucesso
radiofônico em 1954, quando lançou a música “Neurastênico”, um de seus maiores
sucessos em disco, e conhecida até os dias atuais.
Antenado no que acontecia no 1 º Mundo,
Betinho logo percebeu que o Rock’n Roll era algo além de uma moda passageira,
como outros ritmos cinquentistas que estouravam, tais como o Twist e o Calypso.
Incorporando as tradições do Blues,
R’n’B e do Country, tal como seus pares internacionais, e notadamente os
norteamericanos estavam fazendo, Betinho engatou diversos Rocks em suas
apresentações pela noite de São Paulo, e causou furor local, na mesma medida em
que acontecia na América.
Em 1957, mergulhou de cabeça no Rock’n Roll, quando lançou o LP “Enrolando o Rock”, e ao contrário de seus álbuns anteriores, mostrava-se focado no ritmo, e não eclético, misturando várias tendências.

Uma grande oportunidade para alavancar a carreira, surgiu em 1957, quando “Betinho e seu Conjunto” apareceram num filme longa metragem, que fez relativo sucesso de crítica e público, denominado “Absolutamente Certo”, do diretor/ator Alselmo Duarte.
Numa cena em que os personagens
principais entram numa boite, o Rock’n Roll estava comendo solto, com Betinho
debulhando sua guitarra Fender Stratocaster, com um público em frenesi, bem
naquela atmosfera de loucura cinquentista.
Veja a cena do filme citado :
O sucesso motivou-o a prosseguir, e em
1958, repetiu a dose com mais um álbum de Rock’n Roll, chamado “Rock &
Calypso”.
Vendo Betinho em ação, era inevitável não associá-lo ao ídolo, Buddy Holly, seu contemporâneo lá do hemisfério norte.
Tratando-se de um excelente
guitarrista, Betinho em nada deixava a dever para qualquer guitarrista
estrangeiro, e certamente foi um dos primeiros brasileiros a empunhar e dominar
uma Fender Stratocaster, e quem tem conhecimentos de música / Rock, sabe do que
estou falando.
Na virada de década, Betinho e Seu
Conjunto ainda lançou algum material centrado no Rock, mas uma conversão
religiosa mudou seu rumo na vida.
Tornando-se pastor evangélico, centrou
seus esforços doravante na música Gospel, como produtor de cantores desse nicho
musical/religioso, e eventualmente gravando como guitarrista de artistas desse
setor.
Então foi isso...em 1957, Betinho
enlouquecia a juventude paulistana antenada no Rock’n Roll, debulhando sua
guitarra e contrariando a versão mal contada da história do Rock no Brasil,
contada por “formadores de opinião” que nessa mesma época, enchiam suas fraldas
com o mesmo tipo de material que produzem em seus respectivos cérebros, ou
simplesmente nem eram nascidos, e demorariam um bom tempo para tal...
Muito boa e prazerosa leitura, Rock n Roll!
ResponderExcluirMaravilha que tenha curtido, Kim !!
ExcluirMais Rock'n Roll que isso, impossível, bem ali no calor de 1957...
Grande abraço !!
Muito bom, legal saber mais sobre os primórdios, aqui no Brasil, do ritmo favorito.
ResponderExcluirExato, está mais do que na hora da verdade vir à tona e nós quebrarmos esse paradigma maldito de que o Rock brasileiro nasceu nos anos oitenta. Em pleno 1957, e já tínhamos dignos representantes do gênero, trabalhando a todo vapor em território tupiniquim...
ExcluirGrato por ler e comentar !!