Dorsal Atlântica parte III - Uma luz na escuridão: Os anos 90 já podem começar.
Na virada de décadas, a banda passava por uma fase difícil e
complicada. Nessa época o baterista Hardcore anunciava que após a gravação do
próximo álbum estaria fora da banda, pois achava que o estilo heavy metal não o
levaria a lugar nenhum.

Foi o início do fim do personagem “Carlos Vândalo”.
Searching for the Light era o nome do disco que anunciava as
transformações profundas pelas quais a banda estava passando.

O novo disco foi um projeto inovador, a primeira ópera
thrash de que se tem notícia.
“Em 1989 estávamos nos preparando para a gravação do nosso
maior e mais inusitado projeto: uma ópera-metal que descrevesse, com alegorias
futuristas, as mazelas do nosso povo”.
Com conteúdo recheado de críticas sociais, Searching for the
Light foi um projeto ousado, composto de uma única faixa dividida em nove atos.
Lançado por um selo da Califórnia, Wild Rags, no exterior, e no Brasil pela
Heavy Records.O disco foi todo composto em inglês. No disco, tentaram revitalizar as idéias de
obras como Tommy do The Who, e The Wall do Pink Floyd, com um conteúdo antropofágico,
aos moldes de Macunaíma. “quando planejamos escrever Searching, pensamos em uma
nova forma, pelo menos para os padrões brasileiros, focalizando a música como
uma pequena orquestra clássica executando rock pesado”.
E para executá-lo, a busca por um novo baterista recomeça,
com bateras fora do Rio inclusive (Minas e São Paulo). Curiosamente é nesse mesmo estado que
encontrariam seu novo baterista.
Guga Távora foi o escolhido entre tantos por possuir os
atributos necessários pra tocar na banda. Atributos esses que incluem a pegada
forte do Bonham e uma boa dose de paixão. Guga tocava com tanta intensidade, que quase
colocou parte de um ginásio abaixo em um show em Maringá. Quando perguntou a um
homem que estava assistindo a passagem de som se ele estava gostando, o homem
disse: “Cada porrada que você dá no bumbo é uma parte do teto que cai”.
Assim, segundo Carlos, encontraram o melhor batera que
passou pela banda: “Com o tempo, ele desenvolveu um estilo misto de
agressividade e técnica, e se tornou o melhor baterista que já passou pela
banda, porque os anteriores eram limitados tecnicamente”. O entrosamento com o baixo de Cláudio Lopes foi rápido e sólido, segundo Guga.
Carlos era o cérebro
da banda, e Guga agora, o coração.
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Jornal O Globo |
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Revista Amiga |
Mesmo assim, segundo Carlos, o público não entendeu bem o
disco e a imprensa os considerava ‘metaleiros intelectualizados’, e por isso
não os levava a sério. A má distribuição do disco também prejudicou a
divulgação do trabalho.
Em 1990 fizeram um show com a banda Ratos de Porão também no
Circo Voador com um público de 1.200 pessoas, segundo Daniel de Oliveira, com
uma ótima produção e aparelhagem. A parte ruim do show foi a falha
na segurança, o público arrebentou as cordas para proteger o palco, e com isso
os seguranças subiram, bloqueando a visão do show. O show do Ratos teve cover de Ramones, enquanto
o da Dorsal começou com as músicas do álbum anterior, emendando na seqüência as
músicas do Searching.
Em um depoimento para o blog, Guga diz que no final do show
avistou algumas pessoas do público escalando as estruturas do Circo em direção
ao palco, lembrando o movimento de aranhas.
Em uma outra ocasião, em Manaus, um deles conseguiu chegar ao palco e pediu uma baqueta. Quando
Guga disse que não podia porque era a última que ele tinha, ele falou: “Ué, mas
como é a última e não pode me dar? Vocês são milionários, andam de limousine e
tudo!” – pura ilusão!
A banda na época era muito admirada pelo público sendo uma
das mais procuradas, juntamente com o próprio Ratos e Sepultura, na loja Hard
n’Heavy, em Ipanema, especializada no ramo.
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Jornal O Globo |
Em 92, realizaram o surreal show na quadra da Estácio de Sá (é isso mesmo!!!), juntamente com as bandas Korzus e Kreator (da Alemanha), mostrando que não é só de samba que é feita a cidade maravilhosa, mas também de um bem elaborado e intenso rock n’roll.
“Os fracos desaparecem e os bons permanecem grandes”. Com
essa frase a revista Rock Brigade conceitua a banda em seu próximo disco,
Musical Guide From Stellium, que está
segundo ela, “mais moderna do que nunca, e mais ligada no que rola no rock
mundial”.
Em seu primeiro disco gravado com a banda, Guga acrescenta uma pegada rica em detalhes, casando o peso da batera com o da guitarra na medida certa, trazendo mais precisão e atingindo um equilíbrio perfeito nas músicas.
Mas você deve estar se perguntando: O que será que quer dizer ‘Musical Guide From Stellium’? Por que o disco tem esse nome?
Calma, eu explico. Stellium foi um nome dado a conjunção
entre sete planetas no signo de aquário, ocorrida em fevereiro de 62. O evento
astronômico e astrológico teria dado início a uma nova época.
Claramente o disco manteve as influências esotéricas, sem deixar de lado os riffs pesados, uma combinação talvez inimaginável anteriormente, mas que se tornou real depois da banda. Além disso fala sobre as profecias de Nostradamus e é cantado em várias línguas.
Com uma pareceria entre a Heavy do Rio e a Cogumelo Records
de BH, foram trabalhar pela primeira vez com o produtor profissional, Marcos
Gauguin, ex-baixista da banda Sagrado
Coração da Terra.
“O segundo trabalho da trilogia e nosso primeiro CD bem
produzido, mostrando uma nova proposta, que era uma música rápida com muitos
toques dos anos 70 e até mesmo de rock progressivo” – diz Carlos.
Seria um rock pesado progressivo? Acho que faria sentido
esse título, levando em conta as várias mudanças e complexidade das músicas.
Podemos dizer que o som seria uma modernização e desdobramento do rock
progressivo dos 70’s. Carlos cita em seu livro o termo, dizendo que a
complexidade do disco quase os levou ao título, antes de o gênero ter entrado
na moda.
A revista Bizz, em uma reportagem, fala um pouco sobre as
músicas do álbum. Segundo ela, em Rock is Dead, Carlos se volta contra o
consumismo da indústria musical, citando Pete Townshend, do The Who (espero morrer antes de
ficar velho). Em Kali Yuga, fazem uma comparação pertinente com os riffs do Black Sabbath, muito bem observada. A música fala sobre uma fase da humanidade onde
tudo de ruim precede uma nova fase de progresso. A teoria é inspirada na escritura hindu do Vishnu Purana. Em um trecho, a música fala que “quando a
saúde for a única ligação entre homem e esposa, quando a sociedade chegar ao
ponto em que a propriedade for a medida para o sucesso, então você estará em
Kali Yuga”. Kali Yuga também pode ser definida como a era do materialismo.
A Concepção da arte da capa do disco é de Octavio Aragão. A ilustração foi realizada por Gilberto Zavarezzi. A capa mostra Kali, a divindade Hindu.
Os shows da Dorsal nessa época receberam ótimas críticas,
inclusive elogios ilustres de Bruce Dickinson do Iron Maiden, que numa
entrevista disse ter visto e gostado muito do show que assistiu.

Continua...
Oi, pessoal! Sensacional o texto,mas preciso corrigir um detalhe. A concepção da capa de Musical Guide From Stellium é, realmente minha, mas a arte descadeirante é do grande ilustrador Gilberto Zavarezzi. Felicidades para todos!
ResponderExcluirOlá Octavio! Obrigada pelo elogio e pela ressalva, iremos corrigir o erro em breve. Um abraço!
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