Ars Imitatur Vitae... o limite humano
Por Luiz Domingues
O cinema, sem dúvida, glamorizou atores e atrizes tornando-os mega celebridades, muito acima do que outros artistas jamais houveram sido anteriormente, salvo algumas exceções pontuais do mundo da música; teatro & dança e da literatura, ainda que em escala muito mais branda, devido aos meios de comunicação absolutamente mais modestos à disposição, antes do advento do fascínio gerado pela tela grande.
O cinema, sem dúvida, glamorizou atores e atrizes tornando-os mega celebridades, muito acima do que outros artistas jamais houveram sido anteriormente, salvo algumas exceções pontuais do mundo da música; teatro & dança e da literatura, ainda que em escala muito mais branda, devido aos meios de comunicação absolutamente mais modestos à disposição, antes do advento do fascínio gerado pela tela grande.

Naturalmente que uma indústria paralela
cresceu em volta, explorando tal furor. A imprensa escrita criou meios, os mais
variados para aproveitar tal modismo e ao mesmo tempo tal ação tratou de
retroalimentar o fenômeno, potencializando-o de forma incalculável.
Departamentos específicos foram criados nas redações dos jornais, para cobrir o
cinema e revistas surgiram aos montes, especializadas, abrindo caminho para
todo o tipo de cobertura e plataforma, indo parar até nos álbuns de figurinhas;
nas histórias em quadrinhos; e na
própria literatura que enxergou no cinema um filão e este em contrapartida
muito alimentou-se dos livros, estabelecendo uma relação direta no sentido de
usar romances; contos; crônicas; poesia; ensaios e biografias para adaptar em
filmes.
Com todo esse crescimento, foi mais do
que natural que na linha de frente dessa cadeia de ultra exposição em escala
gigantesca, os atores tornassem-se celebridades admiradas, aliás mais do que
isso, adoradas, literalmente, gerando expectativas. Naturalmente que a imagem
criada no imaginário popular poder-se-ia quebrar a qualquer momento, mediante a
suscetibilidade às intempéries humanas e inerentes de tais artistas envolvendo
todo o tipo de sortilégios que acometem qualquer ser humano e aí, não
fazendo-se de rogados, os jornalistas foram atrás também da espetacularização
da miséria humana, repercutindo ao máximo os desvios de conduta; fragilidades,
segredos pessoais e sim, a “fofoca” gera muito interesse e por conseguinte,
dinheiro. Surgiram as publicações especulativas e logo o rádio seguiu a
tendência, usando seu espaço no dial para tratar desse tipo de discussão e
claro, com o surgimento da TV, isso aumentou ainda mais.

Os grandes astros & estrelas do
cinema foram envelhecendo e tirante tragédias pontuais com a ocorrência de
acidentes; violência urbana ocasional e doenças súbitas, que ceifaram alguns
ainda em idade jovem e / ou mediana, a maioria foi deixando-nos por morte
natural mediante o avançar da idade. Foi por volta das décadas de setenta e
oitenta que uma enxurrada de mortes em grande profusão, de tais celebridades
chocou os fãs, gerando a impressão de que tais perdas fossem surpreendentes,
como uma espécie de coincidência, talvez uma “maldição”, sinal apocalíptico ou
coisa que o valha. Todavia, o que ocorreu na verdade, foi apenas a decorrência
do curso natural do limite humano e sendo assim, tais artistas foram
deixando-nos apenas por ostentarem uma faixa etária mais ou menos equânime e
nesse caso, nada havia de surpreendente, mas apenas sucumbiram à normalidade da
vida.
O tempo avançou e outras super
celebridades surgiram, não só do meio artístico, mas de outras áreas também.
Gente ligada ao esporte, atletas principalmente, alçaram-se a um patamar olímpico,
com o perdão do trocadilho. E por conseguinte, pessoas dos mais variados campos
da sociedade, notadamente políticos, que inclusive passaram a usar o marketing
cada vez mais para suas campanhas eleitorais etc. E com o surgimento da
Internet, o que já era enorme, amplificou-se muito mais, portanto, a sensação
de grandiosidade das notícias e leve-se em conta a rede de boatos e mentiras
deslavadas, também ganhou uma proporção inimaginável. Para o bem e para o mal,
a super repercussão das notícias, verdadeiras ou falsas, norteiam a imaginação
da opinião pública mundial, na atualidade.


Causou furor em 2016 e de certa forma
estendendo-se ao dias atuais de 2017, a escalada vertiginosa de óbitos
ocorridos entre Rock Stars, alguns de proeminência mundial. Muitas pessoas
comentam que tal efeito dominó caracterizou uma onda de azar pela grande
quantidade de perdas num curto espaço de tempo, mas a lógica do raciocínio é a
mesma que fora observada quando muitos astros do cinema das décadas de vinte a
quarenta, principalmente, deixaram-nos tempos atrás, ou seja, muitas pessoas na
mesma faixa etária, envelhecendo e falecendo mais ou menos na mesma época.
A
mesma ressalva observa-se sobre casos pontuais de mortes ocorridas por outros
motivos, mas na prática, a realidade é que a geração de Rockers das décadas de
cinquenta e sessenta, principalmente, atingiu uma faixa etária que coloca-os
como septuagenários a nonagenários em média e assim, é mais do que natural que
deixem-nos.
Chato, claro que queríamos contar com
eles aqui, sempre jovens e exercendo sua genialidade artística a
influenciar-nos, mas ninguém está acima do limite humano, nem mesmo os gênios e
assim, resta-nos a resignação, ainda que sofrida e o consolo de que a
tecnologia preserva-nos sua arte através de material de áudio & vídeo
principalmente, e temos a internet como manancial livre (ao menos por enquanto),
para a exploração de todo o tipo de pesquisa envolvendo-os.
“Ars Imitatur Vitae”, sim... a arte
imita a vida, somos mortais e temos a nossa limitação, não tem outro jeito.

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